Quem canta por ti, São Paulo, meu amor?

Não pessoal, eu não sou são-paulina (Thanks God!), tô falando da cidade de São Paulo mesmo. Sou apaixonada por esse lugar, sempre quis morar por aqui (sou uma ex-moradora de Caieiras), gosto de tudo: do cheiro de sujeira do Centro velho até as vitrines estonteantes da Paulista, do caminho que o metrô faz até o Tucuruvi e do Largo Treze, do Brás, do Bexiga e da minha amada Barra Funda com o inesquecível Parque da Água Branca e de Pinheiros, com a incrível Teodoro Sampaio. Da Ipiranga com a São João e a Galeria do Rock na Barão, do pico do Jaraguá e do Museu da Língua Portuguesa até a José Paulino. Poxa, quem não se encantaria com um lugar como esse, não é mesmo?

Tanta gente se encanta e se encantou com essa cidade incrível <não uso maravilhosa para não chatear meus leitores do Rio> que várias canções já a tiveram como tema. E foi para isso que vim aqui hoje: para compartilhar com vocês algumas canções lindinhas sobre São Paulo, o coração do Brasil.Vamos lá:

1. Trem das Onze – Adoniran Barbosa

    Não posso ficar nem mais um minuto com você
    Sinto muito amor, mas não pode ser
    Moro em Jaçanã
    Se eu perder esse trem
    Que sai agora às onze horas
    Só amanhã de manhã

    2. Sampa – Caetano Veloso

      Alguma coisa acontece no meu coração
      que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
      é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
      da dura poesia concreta de tuas esquinas
      da deselegância discreta de tuas meninas

      Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
      Alguma coisa acontece no meu coração
      que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João

      Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
      chamei de mau gosto o que vi
      de mau gosto, mau gosto
      é que Narciso acha feio o que não é espelho
      e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
      nada do que não era antes quando não somos mutantes

      E foste um difícil começo
      afasto o que não conheço
      e quem vem de outro sonho feliz de cidade
      aprende de pressa a chamar-te de realidade
      porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

      Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
      da força da grana que ergue e destrói coisas belas
      da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
      eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
      tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

      Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
      mais possível novo quilombo de Zumbi
      e os novos baianos passeiam na tua garoa
      e novos baianos te podem curtir numa boa.

      3. Supla – São Paulo

        Em São Paulo onde eu nasci
        Eu não queria sair daqui
        Eu saí fora só pra dar um tempo
        Não te esqueci por nenhum momento
        Do centro de São Paulo à periferia
        Dar um rolê com os amigos era tudo que eu queria
        Pra violência peço clemência
        E para o trânsito paciência
        E pra São Paulo eu quero voltar
        Chega de morar nos USA
        A night de São Paulo não tem igual
        Pode ir pro Rio ou pra Portugal
        All right
        O que não falta é mulher bonita
        Se não gostar sai logo da fita
        Tem a branquinha e a escurinha
        Se preferir sai com uma ruivinha
        E é de São Paulo que eu quero falar
        Se você vier que vai gostar
        Da Paulista às galerias
        Mas que tormento quando chovia
        Vamos lá, vamos melhorar
        Fazer de Sampa o melhor lugar
        No Morumbi aos jogos eu assistia
        E quem sabe encontre aqui meu um amor um dia
        All right
        Vamos lá, vamos melhorar
        Fazer de Sampa o melhor lugar

        4. São, São Paulo – Tom Zé

          São, São Paulo quanta dor
          São, São Paulo meu amor
          São oito milhões de habitantes
          De todo canto em ação
          Que se agridem cortesmente
          Morrendo a todo vapor
          E amando com todo ódio
          Se odeiam com todo amor
          São oito milhões de habitantes
          Aglomerada solidão
          Por mil chaminés e carros
          Caseados à prestação
          Porém com todo defeito
          Te carrego no meu peito
          São, São Paulo
          Quanta dor
          São, São Paulo
          Meu amor
          Salvai-nos por caridade
          Pecadoras invadiram
          Todo centro da cidade
          Armadas de rouge e batom
          Dando vivas ao bom humor
          Num atentado contra o pudor
          A família protegida
          Um palavrão reprimido
          Um pregador que condena
          Uma bomba por quinzena
          Porém com todo defeito
          Te carrego no meu peito
          São, São Paulo
          Meu amor
          São, São Paulo
          Quanta dor
          Santo Antonio foi demitido
          Dos Ministros de cupido
          Armados da eletrônica
          Casam pela TV
          Crescem flores de concreto
          Céu aberto ninguém vê
          Em Brasília é veraneio
          No Rio é banho de mar
          O país todo de férias
          E aqui é só trabalhar
          Porém com todo defeito
          Te carrego no meu peito
          São, São Paulo
          Meu amor
          São, São Paulo

          Ah, eu recomendo a audição de todas essas canções! 🙂

          E aí, você conhece alguma música que não está aqui? Comenta aê!

          10 comentários em “Quem canta por ti, São Paulo, meu amor?

          1. Pô, Rita Lee é só SP…..
            Amo mto essa cidade, apesar do transito, é mta coisa pra fazer.
            Amo tb meus amigos que ai moram. Amigos verdadeiros que me fazem andar quilometros para ve-los (com todo prazer).
            Que outro lugar no mundo tem tantos shows do Skank por ano??? hahaha

          2. Achava que eu era a única que conhecia essa do Supla!
            São Paulo é o melhor lugar do mundo, não tem jeito!!

          3. Oii Rakky !
            Tava pesquisando fotos sobre ROACUTAN no google, e vi sua foto … entrei aqui no seu blog e achei super interessante..
            Eu também tou começar a usar Roacutan, meu dermatologista me passou (na verdade, meu SEXTO dermatologista… kkkkkkkk. caso crítico, em?!)..
            Queria muito conversar um pouco com você sobre isso.. quero tirar umas duvidazinhas…
            dá pra vc me add no msn ? Por favor
            klara_keury@hotmail.com
            ah, sou de Floriano – Piauí ;]
            Abraços ;*

          4. Vai alguns poemas que não são sobre São Paulo. Eu nunca obedeço né, Rakky?! 😀

            Textos e Poemas extraídos da obra POETAS DO MODERNISMO, organização geral de Leodegário A. de Azevedo Filho, edição comemorativa dos 50 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, obra em 6 volumes, editada pelo Instituto Nacional do Livro (Brasília, 1972):

            PARIS
            “Crepúsculos longos impressionistas
            A luz não cai
            escorrega
            sobre os patins das nuvens
            O Sena foge
            Levando o gosto da posse”

            LISBOA

            “A cidade tomou banho
            Água suja do Tejo
            A Torre de Belém
            no poente decadente
            sonha com impossíveis caravelas”

            OBERLAND

            “Lagos
            Vaquinhas bem pintadas
            Neves eternas para inglês ver
            Palace Hotel”

            HAVRE

            Mastros… guindastes… armazéns
            Canção dos caminhões
            sobre os paralelepípedos anárquicos
            Apitos taciturnos… Velas ao vento

            GENEBRA

            “Longe dos olhos perto do coração
            A nostalgia cresce como meu bigode”

            NOVA YORK

            “Fui a Nova York
            Não de avião ou transatlântico
            Nem com ajuda de Orfeus hoje impotentes
            Fui de cinema.”

          5. Agora vou obedecer, Rakky:

            “Augusta, graças a deus,
            Graças a deus,
            Entre você e a angélica
            Eu encontrei a consolação
            Que veio olhar por mim
            E me deu a mão.
            Augusta, que saudade,
            Você era vaidosa,
            Que saudade,
            E gastava o meu dinheiro,
            Que saudade,
            Com roupas importadas
            E outras bobagens.
            Angélica, que maldade,
            Você sempre me deu bolo,
            Que maldade,
            E até andava com a roupa,
            Que maldade,
            Cheirando a consultório médico,
            Angélica.
            Augusta, graças a deus,
            Entre você e a angélica
            Eu encontrei a consolação
            Que veio olhar por mim
            E me deu a mão.
            Quando eu vi
            Que o largo dos aflitos
            Não era bastante largo
            Pra caber minha aflição,
            Eu fui morar na estação da luz,
            Porque estava tudo escuro
            Dentro do meu coração.”
            (Augusta, Angélica e Consolação – Tom Zé)

          6. Desculpe o flood, mas lembrei de um poema tão bom que merece um destaque:

            SAMPARAGUAI, REGURGITANDO O ESCÁRNIO
            (Por Silas Corrêa Leite)

            “E para que ser poeta em tempos de penúria?” (Roberto Piva)

            A grande metrópole de Sampa entregue a tantos demônios
            De máfias e quadrilhas do crime organizado paraestatal
            (Inclusive o miolo formal das privatarias, privatizações-roubos)
            Pela falsa lei de oferta e procura com subornos no entorno
            O mercado-cadela parindo monturos de rejeitos sociais
            O narcocontrabando informal e os new-richs da terceirização
            Prostitutas, travestis, e os excluídos sociais entre favelados
            E marginais baratos rendidos ao jogo de aparências e ao crack
            Na cidade grande o núcleo do charco iluminado pra consumo
            Entre estátuas e cofres e restos de seres entre tantas vendas
            A consciência-formiga querendo o açúcar das noites efêmeras
            Entre a tecnologia cabritada e a sensibilidade hollywoodiana
            Numa augusta sampa que cria modelitos para o resto do Brazyl
            Embrutecida urbe de escarros e dejetos entre abraços de palhas

            Totens, bancos, catedrais – e parasitas de todos os estilos
            Personagens bizarros, decrépitos; revistarias de novidades sórdidas
            O álcool-íris das cirroses letrais como furos de labirintos e panelas
            Arames-fariseus, lamúrias com discórdias consentidas
            E jugos superiores no status-quo a preço de vidas descartáveis
            E a cidade grande feito Samparaguai sitiada entre guaritas
            Pelo cinturão verde da muamba chinesa entre parasitas
            E o dólar neoliberal do neoescravismo inconsequente

            Tabletes de felicidade química em pó marmóreo sulatino
            Ah Geração Teflon que esquenta mas não quer aderência
            Cérebros-barrinhas-de-cereais com esquisitices exóticas
            O bordel excelência da Avenida Paulista de liberais escrotos
            As máfias da expropriação et caterva por atacado
            Os cérebros nanicos de aluguéis gerando lucro com a fome
            As proust-trutas de uma peregrinação miserável para a sobrevida
            O câncer social via Pinóquio de Chuchu e outros leprosários
            Tudo um gigante Carandiru a céu aberto com bandeiras do Brasil

            Os beco-hambúrgueres ardis, estacionamentos-cidades hostis
            Os guetos-tubainas, cortiços e a sofrida periferia S/A
            As oxige-nadas da alta sociedade num podre pop-star
            A tevê que esconde a senzala mas se mostra cloaca
            O governo paralelo do crime organizado nutre e viça
            As propinas estatais pró-partidárias de tucanos insanos
            Professores ganhando salário de mendigos na exclusão proposital
            Quadrilhas em praças de pedágios entre brucutus fantasmas
            E o cogumelo do self; a sopa de egos-bandeirantes, assaz sina
            Tudo putrefetado em modus operandi ordem e progresso
            A nova mpb que não é nova não é popular e não é brasileira
            A cultura pindorama miojo-nojo de almanaque de ocasião
            A sazonal oposição caça-níquel à república de Brasília

            Os operários da web com barrrigas de tanquinho e links dúbios
            Na esquina da Ipiranga com a São João a máfia dos transportes
            E Samparaguai prevaricando improbidades públicas
            O minimo estado cínico corrupto e inumano e amoral
            O patê de víboras na sala vip das autoridades histéricas
            O som jeca com grife, na orgia pagã-pirata, a elite branca
            O cadafalso do rodo-anel que foi um tremendo roubo-anel
            O cassino estaiado superfaturado para agradar a gregos e baianos
            Sociedade hipócrita de sampa e seus universos paralelos, primatas
            A midia-nódoa, o crime de obras inúteis sem castigos sonhados

            O lucro fóssil, o poder camarão, os caras de pau
            Marginais engabelando capos de surubas com erário público
            As tecnologias de cipós entre regimes de exceção e arbítrio
            O turismo lepra, pedofilias e tráfico de influências sistemizadas
            Ongs de araque em campus minados de consciências com glosas
            O centro velho entre velhacos de porões e arranha-céus decadentes
            Nas periferias mutantes com machadinhas de raps mandorovás
            As tetas do capitalhordismo americanalhado e circo e pão e brioches
            Descarregos-pivôs entre o boi-bumbá e os migrantes com ódio-ópio
            E os orientais chegando… chegando… para o futuro chino-brasilis
            Depois do afrobrasilis-tupídavidico e suas orgias natividades…

            Os nóias filhinhos de papai em clãs falsos como notas de três reais
            Os seres-reses em situação de rua – não constam em estatísticas
            O morumbi (se gritar pega ladrão não fica um na geografia-beronha)
            As importações insensíveis e o medo de mudanças que mudem mesmo
            A mágica do dezelo público impune re-elegendo quem rouba e diz que faz
            Discórdias sindicalizadas com pelegos no flanco querendo levar vantagem
            Caras pintadas subjugados com medo da cota dos negros aos brancos
            Condomínios sitiados por favelas, enchentes e ladrões de faróis
            A Máfia do Lixo em contratos que cheiram mal e se consumam

            (Trombadinha é a fome)

            A bela prostituição generalizada de grosso calibre
            As pegações-ping-pong dos estábulos entre jecas e rodeios criminosos
            A manada de parangolés embrutecidos pela cidade desmiolada
            Futebol-marionete entregue ao deus-dará da lavagem de dinheiro
            A antimateria, a antipoesia, a marginália querendo gangrenar miolos
            Tecnologias efêmeras, assédios de consumos em amebas com grana
            Uma espécie de sub-rota para uma fuga em massa pra Miami-Esgoto
            Alckmin, CPIs abortadas, bem parecendo um genérico de Collor-cover
            O ladrão municipal e o ladrão estadual no mesmo antro cordial
            Criticando uma Brasília federal com seus asnos e seus sonhadores
            A justiça caolha e canalha de uma elite sem pudor em falsos credos
            A imprensa marrom de um caostólico que cheira a formol
            O padre-circo, o pastor-bunker, o espírita flanelinha num bat-macumba
            E os jumentos da espécie entre universiotários e o sertãonojo
            De brasis gerais em sépias de gruas entre o cimento armado

            Os demônios do lucro amoral, riquezas injustas, propriedades-roubos
            Lucros impunes – e os emo – ai de ti paulicéia desvairada
            O rei rói a roupa do rato do maracatu atônito
            Alguma brega parada suspeita, ou balada ou rave
            O luxo-fusco: compram e gastam para saciar rebeldias inócuas
            Lexotam: tomam coke zero e arrotam poses com flatulências sonoras
            As tetas da vaca sampa suga sangue suor e a alma
            De crianças e jovens, entre grades e aparelhos no dente como gps

            E somos todos engabelados pelo corvo do consumo vil, na volúpia
            Um Samparaguai sujo pela marginália de tantos num cardume
            Entre fracassos-drops e casagrandes de oprimidos
            Não conduzimos: somos conduzidos
            Basta ver
            No poder
            De terno, gravata, túnica, toga, farda
            E colarinhos brancos, os bandidos!

            (Publicado, originalmente, na revista Germina Literatura)

            Abraço, Rakky!

          7. É, amor, te entendo perfeitamente. Me considero muito mais paulistano que francorrochense.

            Podem falar o que for, mas pra mim São Paulo é e provavelmente sempre será a melhor cidade do Brasil, com todos os seus (vários) defeitos.

          8. Se eu entrasse mais no Google Reader teria lido isso antes, enfim.
            Ah São Paulo! As pessoas podem falar muito daqui, mas que é uma fonte de inspiração ninguém nega. Como amo esse lugar, amo tomar café nos becos do centro, amo essa mistura de arquiteturas, de sotaques, de esperanças, de estilos, de vidas.

            E eu amo ver alguém que mora e trabalha em Sampa falando da cidade com tanto amor, depois de ver tantos reclamando. Acho que o problema dessas pessoas é não olharem em volta.

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