Quando você muda de país…

Ha'penny Bridge
Ha’penny Bridge, um negócio lindo desses no centro de Dublin, bicho!

Tem um pouco mais de três meses que eu me mudei. Só que dessa vez, não foi a nômade aventura de achar um apartamento em SP, ou ir pra outra cidade como muitos recomendaram, a fim de achar a tão sonhada paz / felicidade / tranquilidade do interior. Também não voltei pra Caieiras. Eu mudei foi de país mesmo. Moro desde Setembro, como alguns mais chegados já sabem, em Dublin, capital da Irlanda.

A decisão foi tomada no meio de um furacão de acontecimentos, o planejamento envolvia uma pós graduação e esse passo, previsto para daqui a um ano, acabou acontecendo bem antes. E nossa. Essa com certeza tem sido a mudança mais radical da minha vida inteira.

Eu sempre quis fazer algo tão bonito e tão corajoso para mim mesma (porque é assim que eu vejo isso) mas eu nunca achei que teria coragem de fato. Arrumar as malas, vender / doar / distribuir tralhas, separar o que vai e o que fica e entrar num avião, eu, eu mesma e a Rakky, pra ir para uma terra desconhecida fazer qualquer coisa num lugar longe dos meus amigos, dos meus contatos profissionais, do meu idioma nativo? Não, não vai rolar. Mas rolou e tem sido difícil de acreditar. Pra falar bem a verdade, eu só percebi que estava de verdade “morando em Dublin” há umas duas semanas. Mas péra, cê não disse lá em cima que tá aí já tem mais de 3 meses? Pois é, eu me explico.

Pagar contas aqui, alugar quarto, estudar numa escola daqui, conhecer os lugares da cidade, frequentar os pubs, arrumar emprego… tava tudo soando na minha cabeça como uma viagem de férias um pouco maior. Não tinha caído a ficha. Dentro do meu pequeno cérebro, as coisas pareciam acontecer como numa fantasia, num sonho, do qual eu logo acordaria, atrasada para ir para o trabalho, numa casa ou apartamento em São Paulo, com meu gato fazendo festa no meu cabelo. Aí eu sonhei que isso tudo era um sonho (bizarro, eu sei). Sonhei que eu acordava em São Paulo, atrasada para o trabalho, correndo para passar a camisa e sair. Quando acordei, assustada, olhei para o lado e vi minha pequena mesa de estudos no quarto, o calendário de atividades da faculdade pendurado na parede… me deu uma emoção tão boa! E ao mesmo tempo, uma nostalgia tão bonita.

Eu me privei de muitas coisas para chegar aqui. Eu escolhi que queria pagar uma pós ou um mestrado onde quer que fosse há mais de dois anos e de lá pra cá tenho guardado dinheiro pra isso. Mas eu deixei de ficar até tarde nas festas. Deixei de ir a algumas. Deixei de comprar aquele vinilzão lindo pra completar a coleção (até vendi alguns, diminuíndo a coleção, mas aumentando a poupança da pós). Escolhi cozinhar ao invés de pedir comida. Levar marmita ao invés de comer fora. Usar aquela calça jeans até rasgar na coxa ao invés de comprar outras três. Mas isso não é nada comparado à escolha de não ver mais com a distância de um busão ou de um metrô os meus amigos queridos, alguns dos quais nem consegui me despedir quando a oportunidade bateu à porta e eu decidi que viria esse ano mesmo (foi tudo tão rápido). Não é nada comparado à falta que eu sinto do meu gatinho, o Lupin, que doei para uma grande amiga que eu sei (e acompanho) que está cuidando direitinho dele.  Nem à falta que a comodidade de seu idioma nativo te proporciona (mesmo você se virando em outra língua, nada nunca soará igual à língua mãe).

Mas e aí? Cheguei. Eu tô fazendo um mestrado no exterior. Numa área que eu sempre sonhei. Um curso lindo e maravilhoso, que eu achava impossível de acontecer. Um bagulho que é tão minha cara que parece que foi desenhado pra mim. E eu só posso dizer que tenho tido mais paciência e mais tranquilidade comigo mesma, porque no fim das contas, talvez seja esse mesmo o caminho. Quem precisa ser a pessoa pronta, que na primeira semana de uma mudança de vida desse tamanho já está 100% adaptada, com emprego, com amigos novos, com casa, com estabilidade emocional? Eu não preciso. Eu vou enfrentar os pequenos percalços do dia a dia dessa nova aventura aos pouquinhos, um por um, curtindo cada momento. Porque no fim das contas, é isso que é viver, não é não?

 

 

 

Um comentário em “Quando você muda de país…

  1. Também estou me acostumando aos poucos que agora vou para São Paulo e não tenho companhia garantida de umas das melhores amigas, que talvez a gente demore até mesmo anos para se ver pessoalmente de novo.
    A parte que já me acostumei é a de torcer para que tudo dê certo, mais certo do que eu possa imaginar, só porque você merece.
    Acostumei com a parte de que você vai ser feliz num projeto de vida que só pode dar em coisa boa, porque mesmo no Brasil você já fez dar certo coisas bem mais difíceis e superou coisas bem mais geladas.
    Torço tanto por você amiga. Por mim você fica ai pra sempre, dando mais certo ainda na vida! 😉

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